Li recentemente algo que me deixou bastante preocupado e até mesmo enojado. Não sou nacionalista extremo e nem sequer me importo com alguns pontos que muitas pessoas levam a peito.
No entanto, na passada sexta-feira li um artigo que, inexoravelmente, me deixaria muito preocupado: A Língua Portuguesa irá ser alterada em 2008, uniformizada por todo o mundo Luso. Ou seja, diferenças de grafia deixarão de existir nas diversas línguas portuguesas do Mundo Lusófono.
-As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "Abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".
- mudam-se as normas para o uso do hífen
- Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correcta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".
- Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos".
- O trema desaparece completamente. - O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y".
- O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).
- Haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "heróica" e "jibóia". O certo será assembleia, ideia, heroica e jiboia.
- Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será ação, ato, adoção e batismo.
- Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido".
- Portugal mantém o acento agudo no e e no o "bónus"n que antecedem m ou n, enquanto o Brasil continua a usar circunflexo nessas palavras génio/gênio fenómeno/fenômeno.
Revista Isto É, Folha de São Paulo.
Honestamente, fiquei horrorizado, quando me apercebi das alterações. Eu até consigo aturar o facto de a nossa independência económica estar noutro sitio, assim como enfrento o facto de a nossa soberania nacional estar a ser diluída na União Europeia. Agora, desculpem se eu não consigo compactuar com a ideia de ver parte intrínseca e integrante da nossa cultura ser destruída num acordo para a Unificação da Língua.
A Língua de Camões é nossa, e é diferente da Língua de Jorge Amado. Enfrentemos esse facto e celebremos as nossas diferenças. Poderão vir com a ideia de que a nossa língua tem algo a perder com as diferenças de grafia, no que toca a comunicação. Discordo totalmente, pois a diversidade cultural existente entre Portugal e o Brasil deverá ser tida em conta, visto sermos povos com posições de estar e ser completamente distintas. Como tal as diferenças na nossa língua deverão ser olhadas com a perspectiva evolucional: cada língua evoluiu de acordo com o seu contexto.
Confesso que não me agrada ter de escrever “Direto” em vez de “Directo”. Tenho orgulho em ser Português de Portugal, e não tenho grandes problemas em assumir que o Português do Brasil é o mais ensinado por esse mundo fora. Porem, gostaria de manter este bocadinho de alma lusa que é a nossa língua, sem qualquer adulteração imposta em acordo. As línguas evoluem naturalmente, não são fruto de imposições de acordos entre países.
Mas o que mais me chateia neste facto é que, tudo parece estar bem para os Portugueses. Afinal de contas, parece que somos um povo fascinado com o Brasil, mais do que os nossos congéneres brasileiros por nós. Adoramos o Brasil: qualquer musica que venha de lá, é assumidamente aceite em Portugal. Bares com musica Brasileira como o “Fórró” e o “Samba” estão categoricamente apinhados de gente, enquanto que no Brasil esta mesma musica é tida como “pimba”.
Vivemos num pais sem qualquer orgulho em si, e com “ganas” de desprezar a nossa herança cultural do fado e da bela literatura Portuguesa, trocando-a pela cultura alienígena do Brasil, que detêm todo o direito de existir. Não há uma língua ou cultura correcta e penso que todas as culturas devem ser aceites. Somente creio que poderíamos aprender o gosto dos Brasileiros pela sua cultura e país. Não teve de vir um Brasileiro ensinar-nos a amar a bandeira das quinas? Talvez merecemos este triste fado de vermos a nossa cultura pouco a pouco destruída… não gostamos do que é nosso.
E alem disso, até o nosso Nobel de Literatura clama pela anexação a Espanha, ele que nem a Língua Portuguesa sabe utilizar nos seus livros.
E sinceramente, prefiro falar espanhol a Brasileiro: identifico-me mais com Espanha.