An economist is a man who states the obvious in terms of the incomprehensible Alfred Knopf
Apesar da minha formação académica complementar e profissão ser algo paralelo, considero-me, acima de tudo, um economista. Embora a profissão de economista seja algo que não está plenamente definido, acredito que o que define um economista seja mais a sua postura e perspectiva sobre o mundo mais do que qualquer outra coisa. No fundo, e como definiu o Steven Levitt, economista co-autor do Freaknomics, a economia é a ciência que estuda os incentivos. E é com esse quadro mental que estou formatado e no qual raciociono muitas das questões que abundam na realidade quotidiana. Aqui deixo alguns das situações com que me deparo:
No fim de semana passado, numa normal saída com amigos, decidimos ir a um bar numa localidade do Algarve, bastante conhecida. Quando entramos, entregam-nos um cartãozinho para apontarem as bebidas que consumirmos, como é normal neste tipo de sítios. No final do cartãozinho, estava uma advertência: “A perda deste cartão implica o pagamento da quantia de 90€”. Claro que já tinha visto o mesmo aviso em muitos outros cartões, mas pela primeira vez, olhei para aquela advertência como um economista. È uma questão curiosa: se mantivermos o cartão, o nosso consumo será um custo variável; se perdermos o cartão, o nosso custo passa a ser fixo. È uma dicotomia interessante, ou seja, temos um incentivo para “perdermos” o cartão quando a nossa despesa ultrapassa os 90€! Não é preciso ser um economista para se perceber isso; já vi muitos amigos e conhecidos meus implementarem esta estratégia.
Em linguagem económica, uma pessoa tem um incentivo enorme para perder o cartão quando os seus custos variáveis excedem o custo fixo a pagar com a perda do cartão. Se o cliente estiver sozinho e procurar beber os 90€ sozinho, admitamos que será difícil sair do bar sem cambalear, a não ser que invista em Moet & Chandon ou um whisky carote. Como o álcool também obedece á lei dos rendimentos decrescentes, uma unidade adicional de álcool ingerido trará menos prazer ao cliente, a partir de uma certa altura. A partir de uma quantidade ingerida, o beneficio ficará negativa, no sentido de entrar num alegre coma alcoólico, ou pelo menos sujar o chão do bar. Ou seja, este cliente sozinho, mesmo que ultrapasse os 90€ e perca o cartão, a casa estará a ganhar, pois o prejuízo deverá ser compensado pelos restantes clientes, mais regrados, e realizará uma boa venda, embora a sua margem tenha sido mitigada pelo consumo adicional não pago.
Mas... se o cliente estiver com amigos (o que é mais provável, convenhamos), e colocar toda a conta num só cartão e depois “perder” o cartão, então a casa poderá potencialmente perder bastante. No seguimento do raciocínio, um grupo inumerável de clientes poderá beber para alem dos 90€ e não sentir a brutal ressaca do dia a seguir. No entanto, a casa não é estúpida: os cartões tem um numero limite de bebidas a serem imputadas (18 para ser mais preciso), o que levará a que seja necessário que essas bebidas custem mais do que 5€ cada para que a perda do cartão seja benéfico. Como uma boa parte das bebidas chega marginalmente a esse valor, então poderemos safarmo-nos com o pagamento dos 90€, e bebermos mais do que esse valor, se investirmos nas bebidas mais caras. Porêm, ao investir nas bebidas mais caras, o mais provável é que chamemos a atenção dos colaboradores do bar, pelo que aumenta o risco de sermos apanhados.
É claro que quanto maior o risco, maior a recompensa; neste caso pedirmos as tais garrafas de Don Perignon e “perdermos” o cartão e pensarmos que talvez possamos limitar um gasto estupendo a 90€ na noite. È claro que convenhamos, que gastar 90€ numa noite não é todos os dias...
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